Quando estamos num lugar que nos toca pela beleza ou pela estranheza queremos gravar essa imagem de alguma forma. A fotografia é a opção mais usual por qualquer viajante, mas segundo Ruskin existem outras.
John Ruskin, escritor, poeta, crítico de arte e desenhista inglês do século XIX dizia que o modo mais eficaz de se apropriar da beleza de algum lugar é através da tentativa de descrever o que você está vendo, seja através da escrita, seja através do desenho, sem levar em conta se você tem ou não algum talento para tanto.
Ele era professor de desenho e dizia a seus alunos que o objetivo não era torna-los artistas, mas oferecer uma ferramenta para ver melhor. Segundo ele, para desenhar é necessário concentração, observação dos detalhes, compreensão das partes que compõe o todo. O resultado não precisa ser nada que possa ser exposto numa galeria, pois nesse caso, o desenho é só para nos possibilitar ver melhor. Perceber mais do que olhar. Podemos perceber a beleza, mas o tempo que essa beleza permanece na nossa memória depende da concentração que dedicamos à absorção de cada detalhe, dizia Ruskin .
Ruskin desenhou Veneza. Eu também.
Estávamos em Veneza em Junho, quando amanhece muito cedo. A cidade estava tranquila, o céu de um azul ainda pálido e o sol começava a aparecer.
Eu estava tão ansiosa para curtir a cidade que abri a janela do banheiro, uma janela enorme do casarão que era nosso hotel. Estávamos no terceiro andar, com vista para os telhados antiquíssimos e tendo ao fundo a cúpula da catedral. Fiquei ali um tempo sentindo a força daquele lugar. São 118 ilhas, 150 canais, 400 pontes, 450 palácios e mantendo essa mesma aparência desde antes da América ser descoberta. Impossível não se encantar ao andar pelas ruelas medievais, quando se olha para o campanário de uma igreja secular, ou quando desliza-se numa gôndola pelos canais estreitos com aquela sensação que essa cidade não pode ser real.
Bem, estava eu a pensar nisso tudo enquanto observava o amanhecer e me lembrei do caderno de desenho e do estojo de aquarela. Montei meu pequeno atelier sobre o portal do janelão e segui o conselho de Ruskin . Desenhei e aquarelei Veneza.
Nos últimos sete anos, desde que li sobre isso, sempre que viajo, levo meu caderninho de desenho e um pequeno estojo de aquarela. Quando tenho oportunidade de estar só, com tempo para me dedicar ao desenho e a aquarela, faço isso.
Desenhei na Nova Zelândia, na Austrália, no Chile, na Argentina e agora na Itália, no Lago Garda e em Veneza. Não são desenhos para serem mostrados. São apenas para meu deleite.
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