domingo, 19 de agosto de 2012

STROMBOLI


O céu amanheceu coberto de nuvens baixas mas nosso grupo (quatro pessoas) acordou animado. Tinha uma ansiedade no ar, afinal havia meses que falávamos e esperávamos por esse dia. Somos acostumados com trilhas em montanhas, mas subir vulcão ativo e a noite seria a primeira vez.
Não me lembro quando começamos a falar sobre isso, mas pareceu-me que eu estava há muito tempo esperando por esse dia. Bem, finalmente havia chegado.
Estávamos em Lipari, uma das chamadas Ilhas Eólias.
As Ilhas Eólias são um arquipélago composto por oito ilhas localizado ao norte da costa da Sicília. Escolhemos a ilha de Lipari como base para a aventura de subir o vulcão Stromboli ,que fica numa ilha com o mesmo nome a 1hora e 50 minutos de navegação do porto de Lipari.
Não havia nenhuma garantia de que poderíamos subir, mesmo já tendo feito a reserva e pago desde o Brasil.
O negócio era ir até lá e esperar pela autorização que só receberíamos na hora.
Isso só aumentava a ansiedade. Dependíamos do tempo melhorar e dos vulcanólogos da Universidade da Sicília darem o sinal de que seria seguro subir naquele dia. E assim foi.
O mar estava muito agitado e nosso barco jogou muito. Desembarcarmos no vilarejo de San Vincenzo aos pés do vulcão. Mantivemos o olhar o tempo todo para o alto torcendo para ver o topo do vulcão que permanecia encoberto pelas nuvens , o que inviabilizaria nossa aventura.
O vilarejo de casas brancas e jardins bem cuidados com uma praia de cor negra e sem carros é aparentemente um local tranquilo. Porem é só olhar para cima e lá está o gigante soltando fumaça o tempo todo e a cada 20 minutos uma erupção.
Muitas vezes já foi necessário evacuar a ilha de cerca de 500 habitantes por causa do risco que correm quando o vulcão joga suas lavas para fora da cratera formando aquele rio vermelho de lava incandescente em direção a vila ou ao mar.
Há relatos da atividade do Stromboli desde antes da Era Cristã...ou seja, faz muito tempo que estão de olho nesse que é um dos vulcões mais ativos da Europa.
Ficamos na praça de San Vincenzo, juntamente com um monte de gente, aparentemente trilheiros experientes e bem equipados, aguardando autorização para o início da subida. A maioria eram franceses e alemães. Só nós quatro de brasileiros.
Passamos na agência onde pegamos os capacetes e ficamos por horas esperando até que as 17:30 nos liberaram para subir.  Formaram-se vários grupos de cerca de 15 pessoas  e cada grupo era acompanhado por dois guias. Um fica no início e outro no fim da fila indiana que se forma para a subida, já que a trilha é estreita e íngreme. Tinha muita pedra solta e muita lava e portanto exigia atenção o tempo todo, mas quando podíamos parar um pouco e olhar por onde andávamos era deslumbrante. O mar azul e as casinhas brancas iam ficando cada vez mais distantes. O solo negro em contraste com as nuvens de cor alaranjada refletindo o pôr do sol que já chegava, dava uma ar de mistério que me fazia sentir um misto de medo e atração pelo que eu veria a seguir.
Até a altura de 400 metros é possível desistir e voltar com a companhia de um guia, depois disso temos que prosseguir até a cratera que fica a 920 metros do nível do mar. Aos 400 metros todos paramos para comer algo , beber agua e juntar forças para a parte final.
Eu estava bem cansada  e pensei em desistir, mas com o incentivo do nosso fantástico guia e um gel energético fornecido pela minha amiga, prossegui até o final. Se eu tivesse desistido teria perdido aquela que foi uma das grandes experiências da minha vida de viajante trilheira por esse mundo.
Foram 3 horas e 30 minutos de subida difícil e com apenas uma parada rápida . Chegamos  ao topo ao anoitecer. Fazia frio e ventava muito , mas nós estávamos suados pelo esforço da subida. Nos protegemos do vento num abrigo especial para isso e colocamos roupas secas e confortáveis , casaco, corta vento, luvas e capacete com uma lanterna na testa, uma máscara para proteger dos gases emitidos pelo vulcão e prosseguimos para a borda da cratera já noite escura. Apenas uma lua crescente aparecia linda no céu limpo acima da camada de nuvens. Algumas vezes uma rajada forte de vento trazia essas nuvens até nós e nos envolvia naquela névoa gelada.
O coração estava acelerado pela expectativa e nós quatro estávamos excitadíssimos e rindo a toa como crianças eufóricas. Era o dia do aniversário do meu marido e estávamos ali naquele momento celebrando a alegria de viver, a dádiva de conhecer lugares tão especiais que  transformam nossa fugaz existência em momentos de tanta intensidade que é como se tivéssemos vivido desde sempre e para sempre. Li essas palavras em algum lugar e faço-as minhas pois cabem bem nesse relato.
Já escuro e posicionados no lugar mais próximo permitido, ouvindo o estrondo do vulcão, a vibração  e o cheiro forte de enxofre aguardamos o momento mágico que tanto esperávamos, quando vimos surgir do fundo da cratera labaredas vermelhas de lava incandescente. São varias pequenas crateras dentro da cratera principal e várias explosões aconteceram em sequência , mas uma especialmente grande nos deixou totalmente embasbacados e emocionados pela beleza e força da natureza.
Ficamos alguns segundos em silêncio e depois eufóricos cumprimentamos o aniversariante que estava radiante por termos conseguido viver essa experiência inesquecível.
A descida durou 1 hora e 30 minutos no escuro, apenas com a luz fraca das lanternas na cabeça e por um caminho mais íngreme ainda onde não havia pedra, nem trilha demarcada. A sensação era de estar descendo correndo uma duna de areia preta e de 920 metros de altura no escuro, sem ver direito onde estávamos pisando. Todos os grupos desceram juntos em fila indiana e avistávamos ao longe as luzes enfileiradas descendo como se fosse uma imensa procissão na noite escura.
Sem processar totalmente ainda toda a experiência vivida devido ao cansaço, pegamos um barco de volta a Lipari  com mar agitado e num barco desconfortável. Quase 2 horas depois desembarcamos em Lipari e brindamos no nosso hotel o dia inesquecível que tivemos e fomos dormir com a certeza do prazer cumprido.






















quarta-feira, 11 de abril de 2012

Rapa Nui


A viagem é longa. Depois de voar de SP para Santiago  num vôo de 3hs e meia, fiz uma conexão e mais 5 hs de vôo sobre o Oceano Pacífico. É a ilha habitada mais remota do planeta e Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Não há nada  a menos de 3.500 kms de oceano dali. Mais 5 horas e chega-se ao Tahiti.
 A chegada ao aeroporto da Ilha de Páscoa te lembra isso pois você é recebido com colares de flores naturais bem coloridas como em toda a Polinésia e os nativos parecem saídos dos quadros de Gauguin.
No caminho para o hotel me surpreendi com o verde. Por ser uma ilha vulcânica, esperava menos verde.
O local onde a maioria dos habitantes vive é a vila de Hanga Roa. São cerca de 4.000 habitantes. Clima ameno e bastante vento.
As grandes atrações da ilha de Rapa Nui, nome nativo da Ilha de Páscoa, são os  Moais, gigantescas estátuas de pedra vulcânica, espalhadas por toda a sua extensão e os vulcões.
É um lugar de muitos mistérios, muitas perguntas sem respostas, hieróglifos não decifrados que geram suposições e teorias de toda espécie.
Realmente impressiona chegar bem próximo aos gigantes de pedra, de costas para o mar, ou seja, de frente para o interior da ilha, onde ficavam as aldeias. Muitas perguntas surgem imediatamente. Qual o real significado? Os nativos dizem que eles foram esculpidos em homenagem aos líderes mortos.
Como foram levados a uma distância de até 20 km da pedreira original onde foram esculpidos? Qual seriam os significados daqueles símbolos que alguns trazem incrustrados em seus corpos? Muitas são as respostas, mas todas são suposições.
Fomos conhecer o Rano Raraku, vulcão que pode ser considerado uma espécie de fábrica de moais. Andando em volta do vulcão pode-se ver muitas estátuas prontas e muitas em vários estágios de construção, sendo a maior delas ainda presa à pedra. Realmente intrigante !!
São muitos os programas para se fazer na ilha. Entre caminhadas curtas e mais longas, explorações de bike, explorações no mar, como pesca artesanal , snorkelling e cavernas.
 Para mim,  vale a viagem  subir, numa caminhada de 3 hs e um desnível de 500 ms ,até a cratera do Hano Kao. É deslumbrante !! Ficar um tempo ali curtindo o visual da cratera que tem 1,6 km de diâmetro, toda coberta de musgo e uma exuberante vegetação e um enorme lago coberto parcialmente de totora fazendo desenhos que lembram um mapa mundi gigante.. Emoldurando tudo isso, um mar azul violento batendo contra as rochas negras . Dá para andar em volta da cratera e vê-la por vários ângulos, cada uma mais espetacular que o outro.
Depois dessa emoção toda, recomendo descansar na praia de Anakena, uma das duas únicas praias de areia branca e mar tranquilo da ilha. Cercada de coqueiros e moais, impressionam pela beleza e mistério.
Próximo a Rano Raraku, a "fábrica de moais"






Praia de Anakena

A caminho do vulcão Hano Kao

Apreciando a cratera do Hano Kao

Cratera do Hano Kao tendo ao fundo o mar



Caminhando em volta da cratera do vulcão Hano Kao para apreciar todos os ângulos.

Vista da vila de Hanga Roa