sábado, 1 de outubro de 2011

Sirmione - Monte Baldo




A estrada que vai de Bolzano a Sirmione já vai te preparando o espírito para o que virá.
De um lado da rodovia se vê montanhas muito verdes, do outro montanhas de pedras muito altas. No alto dos penhascos, aparentemente inacessíveis, castelos e mosteiros.
Depois, a paisagem muda e de um lado vemos extensas plantações de maçãs e do outro vinhedos a perder de vista.
Chegamos a Sirmione depois de 2 hs de viagem.
Localizada numa península no Lago de Garda, o maior da Itália, e em volta de um castelo do século XIII  com direito a cisnes nadando calmamente, Sirmione é encantadora . Ruas de casas coloridas e muitas flores, restaurantes maravilhosos, alguns com vista privilegiada para o Lago.
É só ir andando pelas ruelas e se deixar surpreender a cada esquina.
Saindo um pouco do centrinho da cidade encontram-se vilas milionárias com jardins preciosos e o Parque Maria Calas, ao lado da mansão onde ela viveu por muito tempo.
Mas a melhor vista do Lago de Garda se tem do alto do Monte Baldo . Nós fomos de carro até Malcesine, uma das lindas cidadezinhas às margens do lago,  de onde se tem acesso ao teleférico para o alto do Monte Baldo. São duas etapas de subida por um moderno teleférico que gira enquanto sobe os quase 2000 metros de altura e você tem uma vista de 360 graus durante o percurso.
A vista é espetacular !!!
Estando lá no alto, dá para fazer umas trilhas com a vista do lago e de toda a região. É tão alto que chega a dar vertigem.
Essa é uma daquelas circunstâncias que me faz ficar consciente da minha deficiência com a linguagem.
Parada ali no alto, absorvendo cada detalhe da paisagem, esperando que a névoa que me impedia de ver tudo com maior clareza se dissipasse, me senti em paz. Sendo eu uma pessoa ansiosa por natureza, aprecio cada vez mais esses breves momentos em que consigo me sentir receptiva  ao mundo à minha volta, quando pensamentos positivos sobre o passado e o futuro ocupam espaço em minha mente e a ansiedade é aplacada.
Passados esses momentos de deslumbre  e introspecção, caminhamos pelas trilhas e almoçamos num dos restaurantes simples  que existem lá no alto.
Pegamos o teleférico de volta e fomos conhecer Malcesine.
Após um gellato delicioso na praça em frente ao cais, pegamos um confortável barco para Sirmione. O percurso todo é bem agradável, a paisagem é linda e tem várias paradas em pequenas cidades às margens do lago.
Mesmo estando fora de temporada, o movimento de turistas do mundo todo é intenso.
Ao cair da tarde, jantando  e desfrutando um vinho italiano fantástico no restaurante Signore com vista para o lago, enquanto observávamos a noite chegar, falamos sobre as expectativas que colocamos em nossas viagens e a realidade. Chegamos a conclusão que, mesmo com algumas chatices como o trânsito pesado que pegamos  indo para Malcesine, ou a fila enorme para embarcar no teleférico para o Monte Baldo, os momentos que tivemos em silêncio, observando como se fôssemos pássaros do alto da montanha aquela paisagem deslumbrante do Lago de Garda , que essa imagem será a que guardaremos em nossas mentes e corações como mais um momento feliz na Itália que tanto amamos.
No alto do Monte Baldo
Vista do Lago de Garda do alto do Monte Baldo


Malcesine
Sirmione

Sirmione


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ruskin ou Desenhar para Ver



Quando estamos num lugar que nos toca pela beleza ou pela estranheza queremos gravar essa imagem de alguma forma. A fotografia é a opção mais usual por qualquer viajante, mas segundo Ruskin existem outras.
John Ruskin, escritor, poeta, crítico de arte e desenhista inglês do século XIX dizia que o modo mais eficaz de se apropriar da beleza de algum lugar é através da tentativa de descrever o que você está vendo, seja através da escrita, seja através do desenho, sem levar em conta se você tem ou não algum talento para tanto.
Ele era professor de desenho e dizia a seus alunos que o objetivo não era torna-los artistas, mas oferecer uma ferramenta para ver melhor. Segundo ele, para desenhar é necessário concentração, observação dos detalhes, compreensão das partes que compõe o todo. O resultado não precisa ser nada que possa ser exposto numa galeria, pois nesse caso, o desenho é só para nos possibilitar ver melhor. Perceber mais do que olhar. Podemos perceber a beleza, mas o tempo que essa beleza permanece na nossa memória depende da concentração que dedicamos à absorção de cada detalhe, dizia Ruskin .
Ruskin desenhou Veneza. Eu também.
Estávamos em Veneza em Junho, quando  amanhece muito cedo. A cidade estava tranquila, o céu de um azul ainda pálido e o sol começava a aparecer.
Eu estava tão ansiosa para curtir a cidade que  abri a janela do banheiro, uma janela enorme do casarão que era nosso hotel. Estávamos no terceiro andar, com vista para os telhados antiquíssimos e tendo ao fundo a cúpula da catedral. Fiquei ali  um tempo sentindo a força daquele lugar. São 118 ilhas, 150 canais, 400 pontes, 450 palácios e mantendo essa mesma aparência desde antes da América ser descoberta. Impossível não se encantar ao andar pelas ruelas medievais, quando se olha para o campanário de uma igreja secular, ou quando desliza-se numa gôndola pelos canais estreitos com aquela sensação que essa cidade não pode ser real.
Bem, estava eu a pensar nisso tudo enquanto observava o amanhecer e me lembrei do caderno de desenho e do estojo de aquarela. Montei meu pequeno atelier sobre o portal do janelão e segui o conselho de Ruskin . Desenhei e aquarelei Veneza.
 Nos últimos sete anos, desde que li sobre isso, sempre que viajo, levo meu caderninho de desenho e um pequeno estojo de aquarela. Quando tenho oportunidade de estar só, com tempo para me dedicar ao desenho e a aquarela, faço isso.
Desenhei na Nova Zelândia, na Austrália, no Chile, na Argentina e agora na Itália, no Lago Garda e em Veneza. Não são desenhos  para serem mostrados. São apenas para meu deleite.

Aqui um desenho de Veneza de Ruskin feito no século XIX. E pensar que está assim mesmo até hj !! 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Cortina d`Ampezzo - Dolomitas




Chegamos em Cortina sob uma  chuva fina e gelada. As famosas Dolomitas, nosso objetivo na região, estavam cobertas pelas nuvens pesadas.
Nossa tristeza só não foi maior graças a simpatia da Bárbara, a moça vestida de roupa típica do Tyrol que nos recebeu no acolhedor, charmoso e confortável Hotel Ambra no centro da cidade. Uma típica casa tirolesa.(www.hotelambracortina.it).
Estamos na divisa da Itália com a Áustria, aos pés das Dolomitas, cadeia de montanhas que pertence aos Alpes, mas que se diferenciam totalmente devido à sua formação geológica.
No dia seguinte conseguimos caminhar por uma trilha e por uma ciclovia que contorna toda a cidadezinha de um pouco mais de 5.000 habitantes e tivemos a chance de admirar as Dolomitas que são como uma moldura para Cortina. A paisagem é espetacular. Estamos na primavera ainda e os campos estão cheios de pequenas flores coloridas.
Nossa caminhada teve a duração de umas 2 horas, mas já chegamos com chuva no hotel. E assim ficou até sairmos de lá, três dias depois. Dia e noite, sem parar.
Constatada a total indiferença do tempo à nossa torcida para que o sol aparecesse e as Dolomitas nos dessem o privilégio de conhece-las de perto, decidimos enfrentar o desafio.
Tínhamos muita vontade de caminhar por aquelas montanhas e resolvemos que faríamos isso mesmo com chuva. E assim foi.
 Difícil mesmo foi convencer um guia de nos levar ao nosso objetivo com aquele tempo.
Primeiro subimos até o refúgio Nuvolau. Duas horas de subida numa trilha com muita pedra, muita neblina, chuva e um pouco de neve. Não era isso que gostaríamos de fazer, mas a outra opção era fica dentro do hotel, sem previsão de melhora no tempo.
Apesar das condições desfavoráveis  conseguimos fazer toda a trilha e chegar ao refúgio que estava fechado e em manutenção. O pessoal da manutenção foi gentil e nos ofereceu um chá bem quente. Ficamos batendo papo com eles em volta da lareira e depois descemos. O objetivo era o visual lá de cima, mas isso não foi possível.
 Emendamos numa outra trilha que havíamos sonhado em fazer, a trilha das Cinque Torri. Além das torres de pedra que são impressionantes, essa trilha tem uma parte histórica, pois foi cenário de batalhas entre a Itália e a Áustria na Primeira Guerra Mundial e pudemos visitar, num lugar muito escondido entre as pedras, uma casamata perfeitamente conservada.
Durante a caminhada de 2hs e meia, nada fácil entre tantas pedras, tivemos a chance de vislumbrar as torres entre uma abertura e outra do tempo. A neblina criava um aspecto dramático na paisagem. Muito lindo!!
Fiquei feliz por ter aceito o desafio de fazer o que era possível naquele dia em que as coisas não ocorreram como eu desejava, e mesmo assim, ter tido a percepção da beleza e da força daquele lugar.
Saímos de Cortina d`Ampezzo com a certeza de que vamos voltar um dia.
Cortina d`Ampezzo - Dolomitas




Trilha para o abrigo Nuvolau



Trilha para as Cinque Torri


Chegando na base das torres

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SENTIERI DEL BAROLO




O Sentieri del Barolo é uma caminho para se fazer a pé pelo meio dos vinhedos da região do Piemonte, centro da enogastronomia italiana, famosa no mundo pela produção do vinho Barolo, assim como do Barbaresco, Dolcetto , Nebbiolo e Barbera.
Essa região é também famosa pelos raros e caros tartufos negros e brancos, muito valorizados na alta culinária mundial.
Estamos hospedados em Alba, simpática cidade de 30 mil habitantes, cheia de vida, com eventos musicais, festivais, muitas praças com cafés ao ar livre, muitas pessoas nas ruas usufruindo do clima agradável nesse mês de junho.
O Piemonte é uma parte da Itália com muitas colinas e vales, tudo absolutamente coberto pelos vinhedos. No alto das colinas se localizam as pequenas vilas que cresceram em torno de um castelo medieval. São vilas de 500 a 700 habitantes mas  com uma boa estrutura de hotéis e restaurantes. E claro, muitas lojas de vendas dos vinhos da região.
Para fazer a trilha, optamos por pegar um taxi até a cidadezinha de La Morra, no alto de uma das colinas. De lá, munidos do mapa de trilhas,  sinalizadas precariamente, mas  necessário para  se evitar a área onde vivem os javalis do Piemonte, demos inicio a nossa experiência de “fazer parte da paisagem. Seguimos em direção à cidadezinha de Barolo, no alto da colina, aos pés do Castelo de Barolo.
Com o dia claro, ensolarado e bastante calor , fomos cruzando por algumas pequenas vilas, andando ora pelas estradinhas de terra e cascalho, ora pelo meio das vinhas. A trilha entre La Morra e Barolo tem cerca de 4 km e um desnível de uns 300 ms . Sempre seguindo os sinais chegamos a vila de Barolo.
Conhecemos a vila, demos uma passada no museu e  descemos a colina seguindo a trilha para Castiglione Falletto. Andamos mais  4 km e meio e  um desnível de 350 ms. A trilha vai sempre pelo meio dos vinhedos carregados de frutas ainda pequenas e passando pelos pequenos povoados. Chegamos  ao nosso destino, famintos e sedentos.
 Nossa intenção era conhecer um produtor de Barolo na vila, mas demos uma parada num bar que nos pareceu irresistível pela simplicidade e pela visual de toda a região. Sentamos num patio sob ombrelones com vista para a paisagem do Piemonte e nos deliciamos com uma sequência de antepastos  típicos , um vinho da região e com a simpatia do Fabrizio e sua mama, donos do Bar La Terrazza.
Depois fomos finalmente conhecer o Fábio, jovem enólogo e proprietário da produtora de vinhos Sobrero (www.sobrerofrancesco.it) , que nos mostrou toda a vinícola, nos ofereceu uma degustação da sua produção e ainda nos levou para conhecer as vinhas.
Com a mochila carregada com duas garrafas de Barolo 98, ficou impossível seguirmos a pé, e o Fábio,  sempre gentil, nos levou  com seu carro de volta ao nosso hotel em Alba.




Bar Terrazza em Castiglione Falletto


Vinícola Sobrero em Castiglione Falletto
Um dia perfeito como tantos que vivenciamos nesse país que adoramos!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

BURANO



Veneza é aquilo tudo que todo mundo sabe, mesmo os que ainda não foram visita-la. É uma cidade única, mágica, romântica, com tanta história , arte, arquitetura...enfim, tem que ser visitada nem que seja uma vez na vida. Se possível, mais de uma vez.
Em estando lá, não se acanhe! Se joga nos programas mais clichês, tipo passear de gôndola pelos canais tirando fotos sem parar com aquela cara de turista embasbacado pelo encanto da cidade, se perder pelas ruelas e curtir a Praça San Marco, com direito a música ao vivo, revoada de pombos  e tudo o que você  já viu nos filmes.
Além dos tradicionais passeios e visitas que tem que ser feitas pelo menos uma vez, tipo Pallazo Ducale, antiga residência oficial dos doges, o Campanário, a Catedral de San Marco, a Ponte de Rialto , Ponte dos Suspiros, a ilha de Murano para comprar os famosos vidros, tem uma outra ilha bem mais interessante  e bem menos visitada: a pequena ilha de Burano.
É um centro de pesca e artesanato de rendas que se iniciou no século XVI e hoje fornece  para as maiores coleções da Europa. Tem até uma escola na ilha onde se ensina a arte de fazer rendas.
Mas o que mais chama a atenção é a diversidade das cores das casas, uma tradição que nasceu devido a frequência com que ocorrem as densas neblinas que cobrem as ilhas lagunares e a dificuldade dos pescadores de localizarem suas casas quando chegavam com os barcos e entravam pelos canais cobertos pela neblina.
Assim como Veneza, não existem carros na ilha e todo o transporte é feito por barcos pelos canais que cortam toda a ilha.  A ilha em si é bem pequena e esse é um programa de meio dia saindo de Veneza.
Para chegar lá, pegue um barco que sai a cada 30 minutos do Fondamenta Nove (píer) em Veneza, o mesmo que vai para Murano, e depois de mais uma ou duas paradas chega a Burano, numa travessia que leva cerca de 40 minutos.
Depois de passear pelas ruas coloridas, lojinhas charmosas de artesanatos e rendas, sentar em um dos cafés às margens dos canais, não deixe de almoçar em um dos ótimos restaurantes da ilha. Dizem que lá se come os melhores pescados da região. Eu sugiro um bem localizado, pitoresco e a comida deliciosa: Riva Rosa – site: www.rivarosa.it
Para retornar a Veneza, é só pegar um barco que sai a cada meia hora .
Passear de gôndola pelos canais de Veneza! Faz parte!!
Rialto - Veneza
BURANO
Um dos canais de Burano.
Um dos muitos restaurantes de Burano
Restaurante e vinoteca Riva Rosa em Burano
BURANO
Tudo muito colorido em Burano.
Uma das ruas coloridas de Burano.
Uma delícia de programa!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Experiência gastronômica



A gastronomia é uma parte importante da viagem, especialmente quando se está viajando pela Itália. Aqui eles levam muito a sério esse aspecto da vida. Eu diria até que esse é a parte da vida que eles mais valorizam. Para um italiano, tudo o que acontece de importante, acontece em volta de uma mesa muito bem servida em qualidade e quantidade.
Estamos em Bologna e ontem pegamos um trem para Parma a mais ou menos uma hora de viagem, especialmente para comer. Claro, queríamos conhecer Parma, mas nesse dia conhecer a cidade estava em segundo plano. Estávamos a procura de um restaurante estrelado pelo Michelin que havíamos lido a respeito no Brasil.
Ao descer na estação de Parma munidos do mapa da cidade, saímos andando, apreciando as ruas cheias, gente bonita, os cafés lotados, mas como já estávamos no clima da experiência gastronômica, o que mais nos chamou a atenção foi a quantidade e qualidade das charcutarias, lojas especializadas em embutidos e queijos (afinal Parma sempre nos lembra seu presunto e seu queijo , mas tem muito mais...).
Chegamos finalmente ao tal restaurante com o paladar já estimulado pela caminhada e pela expectativa.
Fomos os primeiros a chegar e fomos recepcionados pela Cristina, hostess , somelier  e sócia do Parizzi.
 O lugar é sofisticado, com uma decoração bem contemporânea, minimalista, música suave e iluminação na medida certa.
Degustamos um presunto que leva 26 meses amadurecendo para apurar o sabor, uma mousse de queijo com trufas negras de entrada. Primo piatto: pasta (maravilhosa!). Secondo piatto: vitela e coelho (perfeito), e por último,  uma obra de arte em forma de sobremesa. Nome: “o delírio do chef” ou algo assim. Ele apresentou uma degustação de varias sobremesas como se fosse uma palheta de um pintor. Notem que a mousse de frutas vermelhas veio dentro de um tubo de tinta, entre outros delírios. E acompanhava até um pincel de verdade para finalizar a obra do chef.
 Mas não foi só a aparência que surpreendeu. O sabor de tudo estava perfeito. Um excelente  Barbera para acompanhar.
 Sem dúvida, uma experiência!

www.ristoranteparizzi.it

Restaurante Parizzi em Parma - Itália
mousse de queijo com trufas negras
carta de vinho com 1200 rótulos
vitela
degustação de sobremesas - "o delírio do chef"
para acompanhar o café

segunda-feira, 23 de maio de 2011

TREKKING




Eu estava jantando numa pousada em Aguas Calientes (Peru) em uma noite gelada e úmida dos anos 80, ansiando pela visita  ás ruinas de Machu Picchu na manhã seguinte, quando um grupo de jovens entrou com mochilas cargueiras enormes, botas sujas de barro, roupas molhadas, cara de cansados mas ao mesmo tempo irradiando felicidade.
Fiquei intrigada.
Mais tarde conversando com as três garotas argentinas e um menino de algum lugar da Escandinávia, descobri que eram “trekkers”, ou seja, tinham chegado até lá caminhando pela antiga trilha inca por 4 ou 5 dias. Eu claro, tinha chegado de trem. Sequer sabia que existia essa possibilidade de viajar a pé por dias e que a isso se dava o nome de trekking.
Ficou na minha memória  aquele grupo, que na verdade mal se conhecia. O garoto tinha conhecido as meninas no início da trilha e a fizeram juntos . Ao contar sobre a experiência, se olhavam com uma cumplicidade de quem dividiu momentos inesquecíveis que só poderiam ser compreendidos por aqueles que estiveram lá. O mesmo olhar que a gente vê quando uma banda está naquele momento do show em que eles se olham e sorriem com um entendimento que só eles compartilham, mesmo que estejam tocando juntos pela primeira vez.
Meu primeiro trekking aconteceu 5 anos depois desse episódio. Andei pelo Himalaia por nove dias na região do Annapurna no Nepal, acampando ou dormindo em alojamentos precários com 15 graus negativos a noite e dias frios, mas ensolarados. Foi uma experiência transformadora e definitiva na minha vida e eu necessitaria de mil posts para descreve-la e assim mesmo não conseguiria.
A experiência de conhecer a Índia e o Nepal será descrita num post a parte.
Falando sobre o trekking em si, descobri que ele se encaixa muito bem para mim, pois é como se fosse um esporte, mas não é, ou melhor, não precisa ser. Eu nunca gostei de competir e o esporte sempre me causou mais estresse que prazer. O verdadeiro trekkista não corre na trilha pois ela  é o próprio objetivo.  Pode ir no seu ritmo, o que não significa andar sempre no mesmo ritmo. O seu ritmo varia conforme o terreno ou o nível de desgaste de energia. Não é uma maratona. E como disse o guia que nos conduziu, quem chega por último  viu mais, desde que não chegue no escuro.
A condição fundamental para ser um trekkista é gostar de caminhar e ter uma certo preparo físico. Mas não precisa ser atleta.
 Acreditar que para baixo todo santo ajuda é uma ilusão. Músculos preparados fazem toda a diferença, pois fazer uma trilha com joelho doendo, não tem paisagem que encante.
Nem sempre é só alegria. Há também esforço, empenho, cansaço, as vezes exaustão e mau humor.
Mas tudo isso é compensado quando, naquele esforço derradeiro, alcança-se a ponta mais alta daquele rochedo que parecia inatingível e onde a paisagem se descortina, senta-se , tira-se a mochila das costas e fica-se em contemplação.
É uma sensação de alegria e plenitude.
Ao contrário de tudo o que vivemos na nossa vida urbana, cheia de novidades efêmeras, ali você está se relacionando com eternidades. A eternidade das pedras, das montanhas, ou das planícies que passam solidez na sua imobilidade carregada de energia.
Estou partindo para mais uma viagem. Dessa vez vou caminhar pelos Alpes.
Amanhecer acima das nuvens no Nepal em 1992.
Até lá!

domingo, 15 de maio de 2011

SER PARTE DA PAISAGEM




É claro que, quando você está viajando de carro, a vista continua linda, o sol brilha com a mesma intensidade, as cores das paisagens continuam vibrantes. Dá para apreciar o contorno das montanhas, dá até para parar, descer do carro, dar alguns passos e fotografar o melhor ângulo...
Mas, caminhar por uma paisagem é como se deixar impregnar por ela. Passar ao lado de uma montanha ou subir pelas suas encostas é uma convivência que pode durar horas e você tem tempo para observar detalhes que de longe, ou de dentro de um carro não seria possível.
É quase como se você fosse parte daquele caminho ziguezagueante na colina, dos vinhedos a perder de vista, da imensidão das geleiras ou da vastidão dos desertos. Dá tempo para notar o brilho prateado das folhas das oliveiras contrastando com o céu azul, a imponência de uma árvore ou a delicadeza de uma florzinha do campo.
Além disso, tem o prazer de sentir os músculos trabalhando, sincronizar o passo com a respiração, o coração batendo mais forte, o sangue circulando mais rápido,  a inspiração constante de ar puro e da energia da natureza.
A mente também se beneficia de uma caminhada na natureza , pois ao se afastar do jogo social, os problemas parecem menores, distantes. Ao desconectar-se das modernidades, das constantes novidades, do excesso de informação e dos ruídos da vida urbana, a mente relaxa. Há preocupações que parecem sem o menor fundamento quando estamos diante de uma paisagem deslumbrante!!
Hoje não concebo mais uma viagem que não inclua um trekking mais pesado ou uma caminhada mais leve.
Caminhando pela Toscana em 2001.
 Fizemos grande parte da Toscana e da Provence indo de uma pequena cidade a outra a pé pelo meio dos vinhedos ou trigais, mesmo tendo uma estradinha que nos levaria ao mesmo lugar e mais rápido. Mas o prazer de fazer parte daquela paisagem é único.
 Ao chegar ao destino, curtíamos a cidade sem pressa e voltávamos para a nossa cidadezinha de origem de ônibus. Mais tarde nos esbaldávamos num belo jantar acompanhado de um excelente vinho e uma noite repousante no conforto de um bom hotel.
Essa é a descrição de um dia perfeito para mim.

sábado, 7 de maio de 2011

TRILHA AREEIRO – PICO RUIVO


(Dando continuidade ao post anterior sobre a Ilha da Madeira)

Foi uma sorte que no inicio da trilha tivesse tanta neblina e chuvisco. Passei pelo trecho mais perigoso que fica na crista da montanha que é bem estreito e fica entre dois despenhadeiros sem saber onde estava ao certo. O piso escorregadio me fez atravessar concentrada em não escorregar e não olhei muito para os lados pois estava tudo encoberto. Isso me poupou das vertigens e do medo que sinto de altura (pronto falei!) o que aconteceria com certeza se estivesse tudo aberto.
A medida que fomos caminhando entre trechos bem íngremes e outros mais suaves, o vento de repente limpava a densa neblina a nossa frente e como uma miragem surgiam paisagens inacreditáveis, de uma beleza forte, dramática , vales profundos, montanhas altíssimas e caminhos floridos. Puro encantamento!
De repente a neblina baixava de novo e tudo se perdia e nos deixava imersos naquele cenário de beleza e mistério. Dá até para fazer uma analogia com a vida. Quantas coisas estão ali bem à nossa frente e não vemos por estarmos concentrados em outras coisas.
Teve muita subida íngreme e descidas exigentes que pediam músculos preparados.
E assim foi por todo o percurso de 3 h e meia de muita beleza e também bastante esforço físico.
Chegamos felizes e cansados no abrigo do pico Ruivo. Parada para um café e encarar mais uma subida de 10 minutos até atingir o pico e ter uma visão geral de toda a paisagem.
Tínhamos contratado um taxi para nos pegar no Achado do Teixeira e seguimos a pé até lá, o que levou mais ou menos 40 minutos.
A melhor maneira que achamos para viabilizar essa trilha foi contratar um taxi em Funchal que nos levasse até o inicio da trilha no Areeiro, e combinar hora e local no fim da trilha no Achado do Freire para ele nos buscar. Foi perfeito!